Coreia do Norte: A potência misteriosa do futebol feminino de base

Descubra como a Coreia do Norte se tornou potência no futebol feminino de base. Entenda o sistema de formação, a disciplina e o papel do regime.

O sucesso da Coreia do Norte no futebol feminino de base é inegável e impressionante. Com o recente título mundial sub-20 e múltiplas conquistas no sub-17, o país se estabeleceu como uma força dominante, rivalizando com seleções de tradição. Nesta semana, o desafio será contra o Brasil nas semifinais do Mundial sub-17, onde as norte-coreanas chegam como favoritas.

O “laboratório” de talentos norte-coreano

A história de sucesso começou no final da década de 1980. Após uma participação modesta na Copa Asiática de 1989, o então líder supremo Kim Jong il viu no futebol feminino uma oportunidade de propaganda para o regime. Em uma sociedade patriarcal, o desenvolvimento do esporte não visava a igualdade de gênero, mas sim uma vitrine para o Partido dos Trabalhadores e o comunismo.

Embora Kim Jong il não tenha presenciado a inauguração da Pyongyan International Football School em 2013, a base para o desenvolvimento já existia com escolas como a Taesong District Juvenile Sports School. O sistema estatal de formação de atletas é rigoroso, com captação de talentos desde cedo em escolas regionais, direcionando os mais promissores para a capital.

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A Pyongyan International Football School atende atletas de 7 a 16 anos, combinando ensino regular com treinamento esportivo intensivo, seis dias por semana, fundamentado em disciplina e ciência. A forte estrutura e o apoio estatal garantem que as jogadoras tenham um ambiente propício para o desenvolvimento.

“Regalias” e motivação para o regime

Thomas Gerstner, o primeiro técnico estrangeiro do futebol norte-coreano (seleção sub-20 em 2017), relatou o dia a dia das atletas. Elas vivem no Centro Nacional de Treinamentos em regime de internato, com alimentação e acomodação providenciadas pelo estado, treinando intensamente e sem receber pagamento. O orgulho de representar o país é a principal motivação.

Jogadoras da seleção sub-20 da Coreia do Norte comemoram título mundial.
Seleção sub-20 da Coreia do Norte comemorando título.

Para muitas atletas, especialmente as do interior, a ida para Pyongyang representa uma significativa melhora de vida. O sucesso esportivo pode render prêmios como carros e apartamentos, além da possibilidade de levar os pais para a capital. O status social e o senso de dever para com o regime e o líder supremo são cruciais nesse contexto.

Torcida norte-coreana em evento esportivo.
Torcedores celebram em um estádio na Coreia do Norte.

O icônico Estádio Primeiro de Maio, com capacidade oficial para 150 mil pessoas, é palco de grandes jogos. Gerstner explicou que, em partidas internacionais, a plateia é composta majoritariamente por soldados e estudantes, ordenados a comparecer para apoiar a equipe.

Segredos do sucesso na base

O sucesso norte-coreano no futebol feminino, especialmente nas categorias de base, pode ser atribuído a uma combinação de fatores. O apoio incondicional da máquina estatal permite filtrar e desenvolver as melhores jogadoras em um ambiente altamente estruturado e disciplinado. Embora joguem em equipes mistas até os 15 anos, as meninas vivem e respiram o futebol.

Atletas jovens em treinamento de futebol na Coreia do Norte.
Treinamento intensivo de jovens jogadoras.

A disciplina tática e a preparação física rigorosa formam uma base sólida para as atletas. A convivência diária e o forte senso coletivo, moldado pela doutrina comunista, priorizam o time em detrimento do individual. O objetivo do regime é utilizar o esporte como propaganda, com equipes campeãs que exaltem o país no cenário mundial.

Embora a seleção principal ainda não alcance o patamar das potências globais como Inglaterra, EUA ou Espanha, a Coreia do Norte figura em décimo no ranking da FIFA. Um feito notável, especialmente quando comparado à 120ª posição do time masculino.

Vantagem histórica sobre o Brasil no sub-17

A seleção sub-17 da Coreia do Norte demonstrou sua força ao chegar à decisão com goleadas expressivas sobre Marrocos (6 a 1) e Japão (5 a 1) no mata-mata. Destaque para Wo Sim Kim e Jong Hyang Yu, artilheiras da equipe e do torneio com seis gols cada.

Jogadoras norte-coreanas em ação no Mundial Sub-17.
Jogo decisivo da Coreia do Norte no Mundial Sub-17.

Este será o primeiro confronto entre Brasil e Coreia do Norte no Mundial sub-17. Historicamente, no Mundial sub-20, o duelo é marcado pela ampla vantagem norte-coreana, com cinco vitórias em seis jogos, sendo uma do Brasil (2008). Curiosamente, o Brasil obteve vitórias contra a Coreia do Norte nas Olimpíadas de 2008 e com a seleção principal em 2017.

Na próxima quarta-feira (05), no Estádio Olímpico de Rabat, Brasil e Coreia do Norte disputam uma vaga na final do Mundial sub-17. Uma final inédita para as brasileiras, enquanto para as norte-coreanas seria a chance de manter sua dinastia na categoria.

Fonte: O Gol

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