O Halloween, conhecido por suas histórias sombrias, pode ser associado no futebol às chamadas ‘maldições’ que, segundo crenças populares, assombram clubes e personagens. Entre elas, destaca-se a que supostamente recai sobre o Benfica desde a década de 1960, após uma promessa de que o clube português ficaria cem anos sem conquistas europeias.
A origem dessa narrativa remonta a Béla Guttmann, treinador das Águias entre 1959 e 1962. O húngaro, sobrevivente da Segunda Guerra Mundial e de crises financeiras, possuía um temperamento forte e personalidade explosiva, características que moldaram sua intensa carreira. Sua trajetória como jogador incluiu os Jogos Olímpicos de Paris em 1924, onde se decepcionou com a organização, e passagens por clubes na Áustria e nos Estados Unidos.

Carreira de Guttmann no futebol
Como treinador, Guttmann foi um nômade, passando por clubes na Áustria e na Hungria, onde conquistou títulos com o Újpest. Sua adaptação do sistema WM para o 4-2-4 tornou-se uma marca registrada. Após passagens por clubes italianos, dirigiu o Honvéd, equipe que formava a base da seleção húngara, antes de chegar ao Brasil.
No São Paulo, em 1957, conquistou o Campeonato Paulista e introduziu um estilo de jogo ofensivo e inovador. Deixou o clube após uma temporada por questões financeiras, sem polêmicas.
Sua notável passagem pelo Porto, onde reverteu uma desvantagem no Campeonato Português, chamou a atenção do Benfica, que o contratou em seguida.
Legado no Benfica e o surgimento da ‘maldição’
No Benfica, Guttmann consolidou seu legado, levando o clube a conquistar a Taça dos Campeões Europeus — atual Champions League — nas temporadas 1960/61 e 1961/62. Ele também foi fundamental na ascensão de Eusébio, um dos maiores ídolos da história do clube.

Após duas conquistas europeias, Guttmann solicitou um aumento salarial que foi recusado pela diretoria. Insatisfeito, teria amaldiçoado o clube, profetizando que o Benfica ficaria cem anos sem títulos europeus sem sua presença. A partir daí, iniciou-se a famosa sina do clube.
Finais europeias e a ‘maldição’
O Benfica acumulou uma série de vice-campeonatos europeus após a saída de Guttmann. O clube chegou a três finais da Taça dos Campeões Europeus nos anos 1960, perdendo para Milan, Inter de Milão e Manchester United. Posteriormente, enfrentou mais reveses:
- Derrota na Copa da Uefa (atual Europa League) em 1983 contra o Anderlecht.
 - Perda de duas finais da Champions League em 1988 (para o PSV) e 1990 (para o Milan).
 - Duas finais consecutivas da Europa League em 2013 (contra o Chelsea) e 2014 (contra o Sevilla).
 - Duas derrotas na Copa Intercontinental em 1961 (para o Peñarol) e 1962 (para o Santos).
 

Opiniões sobre a ‘maldição’
Jornalistas e ex-jogadores divergem sobre a veracidade da maldição. O jornalista Rui Viegas sugere que a mídia portuguesa consolidou a narrativa devido aos resultados negativos. Por outro lado, Bruno Fernandes, do portal ‘O Gol’, considera a história um mito exagerado, afirmando que a imprensa factual portuguesa não dá força a teorias da conspiração.
António Simões, ex-jogador do Benfica, refuta categoricamente a existência da maldição, classificando-a como um mito alimentado por um desentendimento contratual com Guttmann. Para ele, o treinador é visto como um herói visionário.
O torcedor Fábio Pontes acredita que as primeiras derrotas foram falta de sorte, mas que a pressão da história criada pela mídia e torcida intensificou o ‘estigma’. Ele também considera Guttmann um herói injustiçado.

A figura de Béla Guttmann, embora associada à ‘maldição’, é amplamente respeitada no futebol português como um treinador inovador e vitorioso, responsável por um dos capítulos mais importantes da história do Benfica.
Fonte: Lance!
